30 de abril de 2008

Outoño

(Tradução de Alexandre Spinelli)

Deshoja...
Deshace en el paisaje
Y da la gracia tuya
Sencilla, tierna
Como quien se despide
Con un soplo manso,
De levedad etérea,
De la canción más linda
Que pudiera oír.

Deshoja…
Revela la tuya cara torta
Y ni por eso fea,
Y los tuyos brazos longos,
Hecho quién quiera abrazo,
De quién se fue
Cabalgando al lejos
Y que no vuelve
Antes de la primavera.

Deshoja…
Entrega al viento suave
Lo que te esconde
Muestra tu alma,
Encantada de niña.
Y despide, pues,
De lo que la naturaleza lleva,
Que ya viene lo tiempo
Que te renueva.

22 de abril de 2008

La Felicidad

Cabe no meu coração
A paz de um mar
Acarinhado pelo vento terral:
Cafuné de amor.

Na minha lembrança,
Cabe a paz do brilho
Da lua, quando cheia:
Feitiço instantâneo.

A paz de um sorriso,
Um encanto singelo.

Segredo não há:
É felicidade.

15 de abril de 2008

Veneno

Como insalubre veneno te tenho;
Um licor que dessedenta-me, amargo,
Com perfume de flores, cor de orvalho,
Impetuoso, bélico, árduo.

Domina-me, Tétano, Vício;
Faz-me perder a voz, a visão, a consciência.
Endoudece-me, animaliza-me;
Extenua-me, excita-me, vence-me.

(09/04/2000)

12 de abril de 2008

Palavra Merlot

É inebriante o perfume de um livro.

Antes de ser lido, um livro pede para ser aspirado, como um talentoso amante do vinho faz com seu líquido predileto antes de sorvê-lo. O tempo curte as páginas, dando-lhes cor, textura e alguns fungos... - Vinho e queijo! - As páginas são acariciadas com cuidado, como ao se tocar em uma taça de cristal muito delicada. Um olhar furtivo acaba por se render ao brinde: a capa é virada e a primeira dose de palavras é sorvida. A fineza de um Merlot se faz traduzida em versos românticos e perfeitamente equilibrados, punhados pelo autor. O livro seduz. Quem se deixa envolver é tomado pela voracidade e se embriaga aos poucos. Eu me embriago. Absorvo as palavras com prazer.

O vinho percorre toda a boca e mergulha no corpo, como fazem os versos à alma.

Mais uma taça.

A página se vira, mas não tranqüilamente. Já não se sente mais o cheiro do livro: o perfume de um leitor antigo se insinua.

O último verso nem é lido. Fecho o livro. Acabou-se o vinho.

2 de abril de 2008

Outono

Desfolha...
Desmancha na paisagem
E dá a tua graça
Singela, terna,
Como quem se despede,
Com um sopro manso
De leveza etérea,
Da canção mais linda
Que pudesse ouvir.

Desfolha...
Revela a tua face torta
E nem por isso feia,
E os teus braços longos,
Feito quem quer abraço
De quem se foi
Cavalgando ao longe
E que não volta
Antes da primavera.

Desfolha...
Entrega ao vento suave
O que te esconde,
Mostra tua alma
Encantada de menina,
E despede, pois,
Do que a natureza leva,
Que já vem o tempo
Que te renova.